Da série "Causos de Bombeiros"
Durante quatorze anos (1993 a 2008) atendi semanalmente (e ocasionalmente em emergências) no Corpo de Bombeiros de Toledo – PR, como Engenheiro de Segurança, atuando na análise de projetos de prevenção e perícias de sinistros. Atividade sem remuneração (apenas pequena ajuda de custo), mas sem dúvida uma das mais profícuas de minha vida profissional, cuja corporação goza de extraordinário prestígio popular em todo o mundo, desde quando criada, na Roma do ano 27 a.C., resultado da coragem, abnegação e eficiência com que desempenham suas meritórias atividades.
Muitas ocasiões geraram fatos históricos,
alguns hilariantes relatados em meu livro (“Apenas, uma miscelânea”), mas
sempre ressaltando o caráter respeitoso e altruísta desta mundial confraria dos
bombeiros.
Tal vínculo permite-me ser muito bem
acolhido em todos os grupamentos que visito, trocando informações ou proferindo
palestras.
Dentre tantos episódios, o circunstancial evento da “Cerveja
por Guaraná” marcou em minha memória.
Bebendo Cerveja por Guaraná
A festa do porco no rolete é um
grande acontecimento anual na cidade de Toledo. E, como não poderia deixar de
acontecer, um grupo de bombeiros foi “convidado”
a participar, com ambulância e ferramental necessário para atender eventuais
acidentados e ocorrentes incidentados.
No apagar das luzes da
festividade, noite quente, cansados por atender bêbados e outros nauseados, os
quatro soldados e um cabo reuniram-se no Restaurante Barraca dos Escoteiros,
onde eu atendia como voluntário garçom.
“Não estivéssemos fardados, poderíamos beber uma cervejinha” , falou
o cabo.
Para enaltecer o nobre sentido de
reconhecimento pelos seus trabalhos, meia noite de domingo quente, raras
pessoas ainda restavam na festa, ofereci um copo de cerveja a cada um, pois
que, afinal, o trabalho havia acabado e, em minutos iríamos todos descansar.
Todos os subalternos olharam para
o cabo, pois que a ele caberia a responsabilidade pela sugerida escolha. Como notei sua indecisão, sugeri uma solução não menos saborosa e
visivelmente paliativa.
Eu encheria os copos com cerveja,
geladinha, refrescante e, principalmente, sem colarinho. Além disso, distribuiria garrafas de guaraná vazias
pela mesa, induzindo a concluir que bebiam aquele refrigerante. Todos aplaudiram a ideia e tratei de montar
o “cenário”.
Mas a adversidade se fez
presente, logo após o brinde. O tenente comandante, um digno exemplo de
respeito à corporação, modelo de simpatia e competência, apareceu
repentinamente.
Embora em trajes civis, era o
oficial comandante, a autoridade máxima do Grupamento.
Alegre e sorridente, ele fez um
elogio aos subalternos presentes, e ameaçou tomar o copo de “guaraná” do cabo, para beber
conosco. Imediatamente, tomei-lhe pelo
braço e sugeri tomar uma cerveja (verdadeira) comigo, considerando que esta ele
podia beber, pois não estava de serviço e eu, um mero civil.
Aceitou o meu convite e sentou-se
à mesma mesa, onde felizes todos tomamos um copo de cerveja. Os subalternos
contentes, bebendo cerveja por guaraná.
Imagino que ele notou o embuste, esperto e observador que era, mas permitiu que bebessem, pela essencial e nobre confraternização, após um pesado dia de trabalho, sob o sol escaldante.
Prof. Darlou D’Arisbo
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