terça-feira, 10 de outubro de 2023

O Pingente Estetoscópio - Da série "A Mensageira" - I

Em minha longa jornada de vida, já passada dos três quartos de século, uma infinidade de fatos foi agrupada em meus 97,431 bilhões de neurônios, número este relativo à média das quantidades propagadas por dezenas de cientistas discrepantes.

Alguns destes memoráveis fatos estão ali na transbordante caixinha das emoções, como o casamento, o nascimento dos filhos, das netas e tantos outros...

Mas, dentre estas gavetas da mente, uma delas, como se tivesse uma etiqueta azul, é destacada pelo seu inusitado conteúdo.

O armário das memórias

Em especial, guarda ela no seu inesquecível conteúdo, ocorrências reais, tangíveis e inexplicáveis, acontecidas nas estradas de minha existência.
Consistem em surpreendentes aparições, que me ocorrem a cada intervalo de vários anos.

E todos os acontecimentos acervados nesta “gaveta” possuem algo em comum: revelam a presença súbita de uma senhora idosa, simpática, de olhos brilhantes e, que sempre me oferece algo tangível, como um regalo presente e inesperado.

Assim, já relatei algumas em publicações, como:"As meias amarelas e a vovó Beatriz" (Publ. 019)”, “O café da etérea vizinha (Publ.015)” e outras.

Pois desta feita e sem mais delongas, percorria eu com a esposa, a passeio, com nosso motorhome, os retos e longos caminhos da Patagônia Argentina. 

Na região, as rodovias parecem não ter fim


Com muito calor e fatigados pelos longos trecho, encontramos uma única bela sombra à frente de um pequeno posto de saúde, longe da cidadela.

Ao estacionar, vislumbrei uma senhora, sentada na entrada do prédio, e fui perguntar se ali podia estacionar para descansarmos um pouco.
Ela estava absorta, tricotando e não demonstrou surpresa ao me receber. E ao erguer o rosto, pareceu-me já a conhecer de outras paragens.

A ímpar e estratégica presença humana na região.

Respondeu-me afirmativamente e mencionou, fitando-me diretamente com olhos muito brilhantes: “Meu nome é Sofia, sou atendente deste posto médico”.

Para eu retribuir em palavras a sua cordialidade, informei que minha neta, com idade seis anos, também possui este lindo nome.

Então, para minha espantosa surpresa, ela se levantou, abriu sua correntinha de prata que tinha ao redor do pescoço, e retirou dali o pingente em forma de minúsculo estetoscópio, o qual entregou-me, dizendo:

“Dê-lhe como presente, pois ela vai cursar medicina”.

O sublime momento me fez guardá-lo com carinho
 
Perplexo, embasbaquei, estendi a palma da mão e, com dificuldade pronunciei o simplório: “Obrigado, ela vai gostar”.

De imediato, despediu cordialmente e com o mesmo sorriso irradiante, sentou-se e voltou a tricotar, como se o fato lhe fosse rotineiro.

Um anjo, tangível e sorridente

Por vários dias tentei estabelecer um raciocínio circunstancial lógico, porém sem sucesso.

Conclui que tal personagem existe, com aparições intervaladas e, dentro daquela estrutura física e morfológica de uma simpática idosa, há um organismo indecifrável e com a faculdade de emanar alguma energia benfazeja que adoça os sentimentos e a emoção.

Assim como nas outras oportunidades que me apareceu, sua configuração sempre foi diferente, mas a admirável empatia e a luminescência dos olhos repetiram-se idênticos.

Esta personagem não é apenas uma senhora, é um ente, um anjo, um mensageiro Dele. Pois como declarou um querido amigo, a coincidência é um dos apelidos de Deus.

Já a recebi algumas vezes e espero encontra-la em outras tantas... 

Prof. Darlou D'Arisbo
janeiro de 2020

Pensamento do dia: 

As bibliotecas egípcias eram "tesouros dos remédios da alma", pois que nelas se curava a ignorância, que é a mais perigosa enfermidade e causa de todas as outras.



Obs: Imagens do armário e da senhora obtidos da internet, de domínio público, sem direitos autorais.