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autor, sob pena de indenização judicial.”
Um meu dente molar superior direito apresentou
patologia atípica, com diagnóstico de fratura na raiz e solução cirúrgica com
implante.
Com a intervenção marcada para as 10;00h, cheguei
pouco antes, com banho caprichado e dentes bem escovados. Fiquei lendo o livro
do amigo Marcos (Folhas Secas) por minutos até que a secretária me atendeu.
Trouxe-me um copinho com antisséptico para eu “bochechá-lo”.
Logo fui chamado pela assistente para acomodar-me
na confortável poltrona da sala de cirurgia. Pintou meu rosto com uma tinta
amarelada e cobriu-me todo com um lençol furado, aberto apenas entre os olhos e
o queixo.
Conversamos um pouco sobre suas filhinhas e logo
entrou o douto Acácio (do grego akákios, “sem maldade”). Cantarolando,
sorridente e contente, embora fosse uma criança introvertida, fechada quando eu
o conheci, desde seus 12 anos. Ainda bem que mudou, cresceu, evoluiu, para
orgulho dos seus, incluindo os que usufruem de seu conhecimento aplicado.
Vestiu seus alvos paramentos, observou mais uma
vez, minuciosamente, o local do ataque e foi conferir o instrumental.
Então, desafiou meu sexagenário trauma de injeção
na gengiva: “é só uma picadinha de pernilongo da chikungunya...” afirmava rindo
a cada nova ferroada. Foram umas seis, mas eu contei mais de duzentas picadas de
vespas...
Ao aguardar o efeito do limitado narcótico,
conversamos causos, até ele notar que eu falava com meia boca. Senti que ele
tomou um bisturi e talhou a gengiva, verticalmente, abrindo espaço para entrada
de uma esbelta talhadeira de pedreiro.
Passou a golpeá-la com um lindo martelinho prateado,
intermitentemente entre o alvéolo ósseo e a raiz do dente, circulando as
pancadas. Cada uma causava um terremoto nos meus neurônios, reacomodando-os.
Acredito que minhas ideias serão outras após a série de impactos...
Depois da segunda série, prendeu firmemente o
dente com o boticão (um diabólico alicate) e atracou-se a tentar arrancá-lo.
Senti minha caixa craniana desalinhar, tal o esforço aplicado. Teimoso tanto
quanto o dono, o molar negou-se a sair.
Então mais uma série de pancadas, enfiando o bisel
da talhadeira cada vez mais fundo no alvéolo ósseo, ao redor da raiz. Nova
reacomodação dos meus neurônios ao infindável sismo cerebral. Abraçado na minha
cabeça enforcada, em esforço oposto, Acácio cantava e suava. O dente desafiou-o
mais uma vez e apenas gemeu como taquara rachando.
Assustador boticão antigo
Como, no fim deste segundo tempo, o jogo estava
empatado entre o douto e o molar, promoveu-se um terceiro, com mais esforço na
pancadaria da talhadeira. Meus dendritos e axônios dançavam frenéticos um
desencontrado “rap” maluco. A assistente rezava muda, com seus lindos olhinhos
escancarados. O douto tentava enforcar-me com o braço esquerdo esticando meu
pescoço e, com o boticão na direita, puxava e torcia a teimosa estruturinha.
Imaginei que meu pescoço nunca voltaria ao normal e, para sempre, ficaria como
as Kayan Lahwi (as mulheres girafa africanas).
Mas, na prorrogação do terceiro tempo, a “bola
entrou” e o molar saiu. O gol da classificação, com a invisível multidão ruidosa
aplaudindo de pé.
Acácio ergueu solene o triunfo da vitória, tal a
estátua da liberdade, mostrava aos céus seu sucesso contra a teimosia estática
do travão alveolar.
Apresentou-me, na raiz do cujo retirado, os
detalhes da visível trinca e as formações aderentes resultantes da patologia
instalada. Discorreu sobre seus inescusáveis conhecimentos e experiência em tais
casos.
Preparou o alojamento de um imenso parafuso
metálico (um parabolóide tronco cônico) no maxilar, um buraco tão profundo que
pensei iria roçar no meu olho direito. Broqueou, lixou e alinhou a pousada de
tão insigne metal, estranho à minha fisiologia. Quiçá emanará radiação benéfica
ao meu alimento, à minha alma ou aos queridos que me circundam.
Possuo uma antiga, movida a pedal!
Apertado o fixador com seus regulares tantos
Newtons (qual aperto dava-se antes deste nascer?), cantarolando a odiosa música
da roupa de um tal Pedro, contente, deu-me mais uma extraordinária notícia: como
a cratera alveolar era de secção elíptica, seria necessário um preenchimento
ósseo nas duas opostas “lúnulas” vagas.
E a solução seria simples e fácil, afirmou o
douto: retiraria fragmentos ósseos do outro lado do maxilar para recompor este.
Tão singelo como retirar terra de um canteiro para colocar ao pé das flores do
outro. Amanhã vou realizar tal tarefa em meu jardim de rosas e, observar se ele
não vai contorcer-se de dor.
Imediatamente iniciamos a segunda cirurgia: as
vespas anestésicas atacaram novamente, agora a bombordo. Repetindo nos detalhes
a respectiva descrição anterior.
Logo a boca equilibrou, com os lados equivalentes
entorpecidos. A cabeça, ainda sóbria, navegava em nuvens harmônicas e
macias.
Três cortes com início comum (um Y) profanaram a
mucosa posterior da gengiva esquerda, lá no fundo, após o último da fila.
.
Abertas, tais pétalas de carne, um formão com
ponta de ralador entrou e rompeu os tecidos aderidos à dureza óssea, despindo e
desbastando a rigidez do maxilar.
Então o douto, munido de um aprimorado e torturante alicate
biarticulado escavador, foi arrancando as frações sólidas e, com uma micro
espátula, colocando e socando-as nos espaços alveolares de estibordo. Umas três
cargas foram suficientes para nutrir a periferia e fixar na família o metálico
bastardo intruso.
“Pronto!”, afirmou o desafinado cantor. Como se o
tal vocábulo simbolizasse o fim do empreendimento. Faltava sim todo o
acabamento, as muitas suturas nos dois extremos. Foi a vez dos outros vespídeos
atacar as esbeltas carnes já acordando da apatia anestésica. Um furo aqui, outro
ali, um ponto, uma vírgula, um nó helicóide pela pinça de pressão. A atenta
assistente corta cada laço, na precisão exata e os pacotes começam a receber
minúsculas gravatinhas borboletas. São presentes que recebo hoje, pois que
amanhã serão passado.
O douto cantor (morreria de fome, fosse só
cantor), demonstrou todo seu proficiente conhecimento, sua habilidade e
competência em mais de duas horas de estafante e vitorioso jogo.
E, para finalizar, nada melhor que derivar sobre
nada a ver. No caso, falar sobre os malfadados problemas da indústria
aeronáutica brasileira....
Darlou D’Arisbo – 20 de maio de 2015
(O conto é verídico, as gravuras fictícias)
meu dileto amigo....s:. s:. s:. ... adoro seus contos...entre lagrimas e sorrisos me "delicio" com seus contos....amigos....estou no "estaleiro" pois sofri um "derrame"...(ñ cai de nenhum caminhão...ñ)kkkkkk sou ex-caranista e trailista....mas vou voltar...aguarde o "prof pardal"...como estou no"estalei" e escrevenodo com odedo esquerdo...tenho tempo de ler todas as suas estórias e medeliciar com as "comidas" que não posso comer AINDA...kkkk e beber umas geladas....mas um dia eu volto...continue a postas suas viagens q eu "vou junto"...abraços a vocês...e contien a me fazer "feliz"..obrigado...cyro
ResponderExcluirPrezado Cyro: Eu também era cognominado de "Prof. Pardal".. Comentários positivos como o seu incentivam-me a continuar escrevendo e viajando. Auguro-lhe melhoras na saúde, para que possamos nos encontrar, caravanistas que somos. Fraterno abraço
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